sábado, 19 de janeiro de 2008

CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO

UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO
As cegueiras do conhecimento no ensino superior

Cícera Aparecida da Silva[1]


Resumo: A partir do livro “Os Sete Saberes Necessários do Futuro” de Edgar Morin, que apresenta uma nova proposta para o futuro, esse artigo discute o primeiro saber: as cegueiras do conhecimento no ensino superior, mostrando que o conhecimento provoca o erro e a ilusão.
Palavras-chaves: conhecimento, erro, ilusão


Introdução

O livro “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, de Edgar Morin (2002), trata dos sete saberes da educação que os professores tem que ter conhecimento para a mudança no ensino.
Neste artigo, analisaremos o primeiro saber: “as cegueiras do conhecimento”, com base no ensino superior e os problemas que o conhecimento provoca.
O conhecimento é uma capacidade disponível a nós, seres humanos, como saída da ignorância. Mas, esse mesmo conhecimento causa erro e ilusão que parasita a mente humana. Por isso, a educação precisa mostrar que não existe conhecimento que não corra o risco, tendo dificuldade para reconhecer o erro e a ilusão como tais. Precisando, assim, ter em mente que o conhecimento não é acabado, o professor necessita ser um eterno pesquisador, aberto a novos conhecimentos e críticas sobre esse saber.


Conhecimento: Mudanças de Valores Através dos Tempos

O movimento das ciências e das técnicas, ou seja, o avanço dos conhecimentos exatos, tornou-se o principal fator de transformação do trabalho, dos modos de vida e das maneiras de se comunicar. Hoje, estas transformações não mais se desenvolvem por várias gerações.
Quando as técnicas e as habilidades se mantinham quase as mesmas durante a vida de um homem, o papel do saber permanecia despercebido, a capacidade de aprendizagem permanente dos indivíduos e dos grupos não aparecia como qualidade determinante. Contudo, hoje, os conhecimentos não apenas evoluem muito rapidamente, mas, sobretudo, comandam a transformação das outras esferas da vida coletiva; como conseqüência, o que ficava “invisível”, porque era imóvel, passa bruscamente para o primeiro plano.
O homem, antes da era industrial, quando não conhecia a causa natural e real dos fenômenos, associava-as a forças mágicas, sobrenaturais ou abstratas. Pierre Levy comenta sobre esse respeito:

Em escala de longa duração, a era industrial terá sido, sem dúvida, uma rápida fada do neolítico, organizada pelo espaço territorial, e a sociedade pedagógica ou cognitiva, dirigida pelo espaço do saber. No neolítico foram inventadas a agricultura, a cidade, o estado e a escrita, instituições que organizaram a massa dos homens até a metade do século. Por analogia ao que alguns pré-historiadores chamaram “revolução neolítica” (uma revolução que se estendeu por vários milênios) poder-se-ia batizar neolítico o período que hoje se abre.( Pierre Levy, 2000:102)


Sendo assim, o homem contemporâneo, que alcançou um espírito científico, quando não conhece a causa real e natural dos fenômenos, rejeita categoricamente qualquer explicação sem embasamento teórico. Se ele quer conhecer a causa de um fenômeno, tenta buscar mais conhecimento com o intuito de formular uma hipótese.
Para Morin (2002), as sociedades domesticam os indivíduos por meio de mitos e idéias, que, por sua vez, domesticam as sociedades e os indivíduos, mas os indivíduos poderiam, reciprocamente, domesticar as idéias, ao mesmo tempo em que poderiam controlar a sociedade que os controla.
Não se trata, de forma alguma, de ter como ideal a redução das idéias a meros instrumentos e torná-las coisas. As idéias existem pelo homem e para ele, mas o homem existe também pelas idéias e para elas. Somente podemos utilizá-las apropriadamente se soubermos também servi-las.

Os problemas do conhecimento: ilusão e erro

Quando se fala em conhecimento, tem-se em vista o conhecimento da verdade, do pensamento verdadeiro, pois um conhecimento falso não é propriamente conhecimento, mas erro e ilusão.
O conhecimento verdadeiro pode servir às necessidades práticas e existenciais dos seres humanos, não sendo um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados e codificados pelos sentidos.
Segundo Morin (2002: 20), a teoria da informação mostra que existe o eixo do erro sob o efeito de perturbações aleatórias ou de ruídos (noise) em qualquer comunicação de mensagem.
Sendo assim, o conhecimento não é uma reprodução das coisas ou do mundo externo. Ele consiste nas percepções da visão, construindo um conhecimento deturpado. Esse erro intelectual do conhecimento, sob a forma de palavra, de idéia, de teoria, é o fruto de uma tradução e reconstrução por meio da linguagem. Este conhecimento comporta a interpretação do sujeito que, muitas vezes, projeta seus desejos, seus medos, suas perturbações mentais, sua visão do mundo e seus princípios de conhecimento sobre o novo, absorvendo de uma forma que multiplica ou não o erro
Segundo o autor, há três erros que podem “prejudicar” o conhecimento: o erro mental: o cérebro não distingue a alucinação da percepção, o imaginário do real; o erro intelectual: nossos sistemas de idéias estão não apenas sujeitos ao erro, mas também protegem os erros e ilusões neles inscritos, ou seja resistirem à informação que não lhe convém ou que não pode assimilar; e, finalmente, o erro da razão: a mente distingue o imaginário e o real controlando o ambiente. Dito de outra maneira, é a racionalidade que é corretiva.
A racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão. Por um lado, existe a racionalidade construtiva que elabora teorias coerentes, verificando o caráter lógico da organização teórica, a compatibilidade entre as idéias que compõem a teoria, a concordância entre suas asserções e os dados empíricos aos quais se aplica: tal racionalidade deve permanecer aberta para que não se feche em doutrina e se converta em racionalização.
Sendo difícil distinguir o momento de separação e de oposição entre o que é oriundo da mesma fonte: a Idealidade, modo de existência necessário à idéia para traduzir o real, e o Idealismo, possessão do real pela idéia; a racionalidade, dispositivo de diálogo entre a idéia com o real, e a racionalização que impede este mesmo diálogo. Da mesma forma, existe grande dificuldade em reconhecer o mito oculto sob a etiqueta da ciência ou da razão.

A função do Ensino Superior sobre o conhecimento

Todo conhecimento está ameaçado pelo erro e pela ilusão, pois a transmissão de informação faz com que o indivíduo construa o sentido de acordo com a sua visão de mundo.
O Ensino Superior não é uma universidade-escola, em que se faça tão somente ensino, através do ensino repetitivo que é verbalistico, livresco e desvinculado da realidade concreta que estamos tomando as verdades estudadas há dez, cinco anos passados como verdades absolutas. Esse conhecimento pode até continuar válido, hoje, mas o jeito de estudá-las de percebê-las é necessariamente novo, porque em dez, cinco ou um ano, a realidade muda. Sacralizar verdades, conteúdos e formas são implicitamente apregoar uma mentalidade estática, contrária ao crescimento, à evolução no sentido de construir um mundo onde o homem seja mais homem, sujeito de um processo e construtor de sua história.
Sendo assim, umas instituições que permitem e incentivem a pesquisa, mostrando para os alunos que o conhecimento não é algo acabado, fechado. Sendo um centro propicio para uma reflexão critica:

O desenvolvimento do conhecimento cientifico é um poderoso meio de detecção dos erros e de luta contra ilusões. Entretanto, os paradigmas que controlam a ciência podem desenvolver ilusões, e nenhuma teoria cientifica está imune para sempre contra o erro.(Morin, 2002: 21)

A educação no Ensino Superior deve mostrar que só pesquisar não é o suficiente. Todo o conhecimento está ameaçado pelo erro e pela ilusão, e os alunos têm que saber que correm o risco de propagá-lo.

Conclusão

A universidade é um centro constituído por pessoas adultas: todos já sabem muitas coisas; portanto, são capazes de refletir e abertos à reflexão, ao intercâmbio das idéias e à participação em iniciativas construtivas.
Compreendo que na busca da verdade, as atividades auto-observadoras devem ser inseparáveis das atividades observadoras, as autocríticas, inseparáveis das críticas, os processos reflexivos, inseparáveis dos processos de objetivação. Tendo apenas incerteza dos seus conhecimentos.
A universidade, entretanto, só poderá desempenhar tais funções quando formar melhores especialistas.

Bibliografia


BAZARIAN, Jacob. O problema da verdade: Teoria do conhecimento. São Paulo: Alfa-Omega, 4 ed. 1994.

CIPRIANO, Carlos Luckeski. et al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Atlas, 10 ed. 1993.

LEVY, Pierre. As árvores de conhecimentos. São Paulo: Escuta, 2 ed. 2000.
MORIN, Edgar. “Os Sete Saberes Necessários para a Educação do Futuro. São Paulo.2000
[1] Professora de Língua Portuguesa.

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